domingo, 20 de junho de 2010

3 - O que fazer quando a professora é flagrada em sala de aula por seus alunos com fluxo menstrual transbordados em suas vestes?


Tudo aconteceu numa turma de crianças de alfabetização nos anos de 1987, numa das maiores comunidades periféricas de Maceió conhecida popularmente por Vila Brejal, bairro do Jardim São Francisco/AL. Os alunos tinham entre 7 a 10 anos. Lembro-me que trabalháva-mos durante o ano, um bloco entre doze a treze palavras geradoras, tais quais: família, lazer, brinquedo, sucata, comunidade, trabalho, saúde, picolé, sururu, mercado, lagoa, lama e moradia. Ambas visavam trabalhar a práxis dentro da realidade onde objetivava a inclusão máxima da grade curricular exemplificada e vivenciada na teoria do Professor Paulo Freire. Recordo-me que naquela manhã de segunda-feira íamos dar início a palavra moradia. Começamos dialogar sobre as nossas palafitas, casa de papelões e plásticos, taipa, tijolos, casebres, prédios, etc. Após algum tempo que, em grupo, eles estavam construindo as maquetes com tesoura, cola, caixas de papelão, ouvi um grito de susto desesperado de um aluno que explanava:
Eitáaaaa! Olha! Ahhhh.... (respirava fundo). A Tia tá cheia de sangue!
Todos assustados e desesperados. Uns colocavam às mãozinhas na boca, na cabe;a, com os olhos arregalados. Que cena!
Nesse momento virei e olhei a saia de cor amarela, godê e pedi para que todos retornassem aos seus lugares e que se acalmassem enquanto eu iria ao quintal daquela humilde e pequena escola de taipa, sem água encanada, nem porta de banheiro, procurar um líquido que pudesse retirar o fluxo e retornar para um novo discursou didático pedagógico. Tinha um pouco de água no balde que utilizei enquanto eles se agrupavam, curiosos, ao meu lado. Voltando, pedi que uma aluna e um aluno deitassem sobre folhas de papel madeira, e que outros dois amigos os circulassem com um lápis piloto, formando o desenho de ambos os gêneros. Então, fui trabalhar Biologia com ênfase no corpo humano, estrutura e desenvoltura dos órgãos de acordo com a faixa etária, sexo até a fertilização. Inclui a família e a vida deles como ser que nasceram da fecundidade. Até plantas e animais foi também posto nessa abordagem. Nossa! Fizeram tantas perguntas. Moral da história deixamos de trabalhar o tema gerador específico para explorar sobre o novo assunto, inclusive, gravidez na adolescência, controle de natalidade.
Mas, voltando ao assunto da nova descoberta dos alunos cientistas mirins, o fato foi para o conhecimento dos pais relatados por eles, que sem entender, ignoraram, rasgaram o verbo, alguns proibiram seus filhos de ir ä escola. Visitei-os! Expliquei-os. A coordenação sugeriu uma reunião para melhor entendimento. Foi solucionado o caso.
O objetivo de expor esse fato, é mostrar que nós professores devemos está sempre preparado em conhecimentos metodológicos e científicos, ter domínio e agilidade para aproveitar ao máximo determinados fatos do cotidiano para transmitir valores e (in) formações com segurança.

Maria José da Silva
Licenciatura em Pedagogia/ULBRA
Efetiva da Secretaria de Est. da Educação e do Esporte/AL/ATSG
Escola Comunitária do Centro de Apoio a Criança e Adolescente e Ass. De Educadores Católicos - AEC/AL/1987
Na Comunidade da Vila Brejal - Maceió/AL
E-mail:pedagogmara@yahoo.com.br
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"Tão importante quanto o que se ensina e se aprende, é como se ensina e como se aprende".( César Coll )

2 - Experiência em EJA: Um Conto que fez história!


Nunca esqueci daquela turma de 62 alunos, em EJA, na comunidade Rosane Collor, no bairro do Clima Bom II, na cidade de Maceió/AL – (1999/2000), quando diante daqueles corpos cansados do cotidiano e olhares penetrantes para o quadro que com giz lineavam conteúdos abordados e dinâmicos em meio a projetos pedagógicos, em sala de aula, resolvi apresentar-lhe três flores do meu jardim para que pudéssemos refletir sobre os diversos detalhes e serventia das mesmas, uma vez que se tinha em sala uma mistura de cultura “religiosa”, valores, etnia, classe sócio-econômica e faixas etária diferentes.
Distribui três folhas de papéis dobradas ao meio em forma de livrinhos, onde todos tiveram a liberdade e oportunidade de criar, inventar, inovar, fazer acontecer. Então, pude ver e ler histórias lindas que ambos apresentaram livremente uns para os outros, mas um aluno me chamou atenção com sua narração da qual nunca esqueci.
O jovem tinha 15 anos, acordava 3:00h da manhã para acompanhar e trabalhar com seu pai em uma padaria num bairro nobre e distante. Cochilava muito na sala, menino de pouca conversa que tinha muito interesse em querer aprender e ultrapassar daquela 3ª fase para série seguinte.
Naquelas simples folhas Ele escreveu:
“Que ao sair da escola e chegando em casa cansado, após banho e café, ele foi para o quarto, abriu a janela e logo deitou, se cobriu com lençól deixando seus pés e rosto descobertos, sentiu uma pequena pancada de um objeto que ligeiramente havia passado pela janela, pois o mesmo estava a olhar às estrelas quando viu algo passar. Curioso levantou-se e pôs a procurar, achou no chão uma semente. Ele queria saber qual era a espécie, levantou-se pegou um bule com estrume e água, plantou e observou durante dias, sempre à noite por que a correria do dia não o deixava tempo para sua observância.
Dias depois percebeu que era um pé de rosa. Ingênuo, ele escondeu com cuidado debaixo da cama. Mais ficou triste um dia ao chegar e não mais encontrar a planta que cuidara com tanto amor. Na verdade sua mãe ao varrer o local a encontrou e dividiu em vários galhos e plantou frente a sua moradia. Quando comunicado entendeu que foi para o bem. Juntos começaram a cuidar da mesma, ficando o caminho até sua porta florido! De repente, não sabe como, numa sexta-feira ao chegar em casa as viu destruídas, tiradas do solo suas raízes. Rodolfo soube que alguém com muita maldade havia feito aquilo. Chorou revoltado! Deu febre, calafrio. O mesmo faltou à escola e o trabalho, pois não estava bem. Mas sua mãe preocupada pegou alguns galhos e novamente as plantou em outro lugar. Elas naturalmente renasceram, cresceram e brotaram lindas flores. Amigos, visinhos puderam pegar novos galhos e plantar. Rodolfo (garoto real da estória), disse com suas palavras que novos jardins floriram, e aquelas rosas que ali estavam na sala de aula havia sido resultado da semente plantada um dia, por ele”.
Quando li, chorei! O parabenizei! O incentivei a publicar seu trabalho.
Dez anos se passaram.., não vi mais aquele menino.
Sei que o assunto teve cunho didático, aproveitamos ao máximo em sala, unificamos saberes dentro do parâmetro curricular que rege a modalidade em E.J.A, incisa na LDB. 9394/96, mas o que objetivou esse material foi ver o nosso papel de professor, até onde podemos ser ponte para essa construção de talentos.

Maria José da Silva
Licenciatura em Pedagogia/ULBRA
Efetiva da Secretaria de Est. da Educação e do Esporte/AL/ATSG
Homenagem ao aluno: Rodolfo de Melo da Silva- (Esc.Mun.Luiz Pedro II-1999/2000)
E-mail:pedagmara.alagoas@yahoo.com.br
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”Ninguém nasce feito, é experimentando-nos no mundo que nós nos fazemos” Freire.

1 - Educação, única vertente para transformação!

A educação tem um grande poder de transformar vidas.
Lembro-me que no interior de Joaquim Gomes/AL, aos 9 anos, passavá-mos o dia com um "punhado" de farinha e 1/4 de limão azedo para matar a fome. Na maioria das vezes, comìamos rato de cana, "tripas" de galinhas que desciam de brejo abaixo quando as mulheres cortavam galinhas e a correnteza da água as traziam.
Não tinha escola pra ninguém. Erá-mos 4 pessoas em casa.
Minha Mãe doente, meu Padrasto viajava por 15 dias pra quebrar pedras nas pedreiras, meu irmão de meses e Eu dona da casa.
Mesmo ao meio das circustâncias tinha a audácia de pegar papel de barracão, pedaço de lápis, um candeeiro e caixas de fósforos, caixas de remédios, aliás, tudo que tivesse escrita e colocava sobre a mesa e transcrevia para o papel os códigos e signos.
Tinha vontande imensa de saber ler e escrever.
Queria enxergar o mundo com outros olhos.
Em 1979 viemos morar na favela da Vila Brejal. Área de mangue, poucas casas. Invadimos um pedaço de lama e construímos uma casa de papelão. Toda tarde a maré vinha e entrava dentro de casa: cobras, sapos, rãs, peixes, dejetos de toda espécie. A chuva, a inudação e o vento derrubou nossa casa diversas vezes, afinal, era mangue. E assim como a minha realidade, diversas outras famílias viviam a mesma situação de calamidade precária.
Dona Severina, 4ª série primária, foi convidada para ensinar o MOBRAL só para adultos em uma outra rua da favela. Eu chorei pra ir estudar. Não podia! Mesmo assim, ela me escondeu detrás das últimas bancas com medo da fiscalização. E foi lá que mesmo sem documento de identificação, comecei a ler e escrever. Aprendi muito rápido e não tinha mais espaço depois de 6 meses. Também não tinha como eu ir para uma escola tradicional por falta de documento.
Aos 12 anos, minha mãe conseguiu meu registro e aí fui estudar na Escola Estadual Cincinato Pinto, onde durante um ano (1982) passei da 1ª para 3ª série e não mais parei.
Comecei a ensinar na 4ª série, aos vizinhos e filhos de vizinhos na mesma comunidade. Aos 15 anos estava ensinando no salão da Igreja São Francisco de Assis (Vila Brejal), Aos 17 anos estava na AEC (Associação de Educadores Católicos/AL), Pastoral do Menor, Centro de Apoio à Criança e Adolescente, Projeto Brejal, Associação de Moradores da Vila Redenção entre outras.
Hoje sou Graduada em Pedagogia pela ULBRA- (Universidade Luterana do Brasil) e Servidora Pública - (Secretaria de Estado da Educação e do Esporte de Alagoas).
Diante do exposto, volto a afirmar que é através da educação e da fé em Deus que o homem enxerga, encontra solo, firmeza, coragem, força para seguir e mudar sua história.
Não tenho medo de lutar.
Não tenho medo de servir.
Não tenho medo de ensinar o que aprendi.
Não tenho medo e nem vergonha de mostrar ao mundo quem fui e quem sou.
Muitos como eu, teve e tem histórias de campeões e vencedores que deveriam ser mostrados
na mídia como forma real de insentivo.
Guerreiros somos todos nós que buscamos conhecer, aprender e ensinar.
Paulo Freire, guerreiro, foi um homem que não teve medo de começar e fazer diferente.
Tantos Paulos Freires têm no Brasil, principalmente no interior que deveria ser visto pelo Sistema.
A gradeço a todos que me ajudaram.
Caneta, papel, cola, régua, lápis de cor, fardamento, de tudo me faltaram, só não me faltou ousadia de cruzar noites perigosas entre ruas e bandidos pra chegar até aqui.
Sou educadora no coletivo, no meu trabalho, na minha comunidade, na minha família, aonde eu chego, mostrando a minha postura, ética e prática.
Agradeço hoje o espaço da mídia de poder aqui dizer o que estou dizendo agora.
Deixo um abraço para todos.
Maria José da Silva - Maceió/AL
Pedagoga/ULBRA - (Cursista : pós em Gestão Pública Municipal/UFAL e Curso de Extensão em Elaboração, Gestão e Avaliação de Projetos Públicos pela FGV-2010/2011)